rodeio sem freio a memória sem arte odeio meu feio, meu peito se parte tentando alcançar lembrança do flerte recaio na lama, meu corpo inerte quando questiono se assim me divirto percebo entrelinha que até me advirto caço regozijo, a beleza da rima, a sorte laço apenas vestígios, têm cheiro morte quando este eu se mutila e surta agradeço ao fato de a vida ser curta
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pandinha
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pulo naquele espaço e, mansinha te peço que não perca o viço, cheirando seu pescoço, beijando o entorno do buço. você me vê. caio, de novo, abismo sem fim na noite enluarada. não há melhor canto no mundo, sou e me sinto amada. pela tempestade passo, a dor do passado cesso. resultado de tudo isso: agora eu sinto que posso amar sem presas no pulso.
amar
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Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar? amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o cru, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e...
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O que não tenho e desejo É que melhor me enriquece. Tive uns dinheiros — perdi-os… Tive amores — esqueci-os. Mas no maior desespero Rezei: ganhei essa prece. Vi terras da minha terra. Por outras terras andei. Mas o que ficou marcado No meu olhar fatigado Foram terras que inventei. Gosto muito de crianças: Não tive um filho de meu. Um filho!… Não foi de jeito… Mas trago dentro do peito Meu filho que não nasceu. Criou-me, desde eu menino Para arquiteto meu pai. Foi-se-me um dia a saúde… Fiz-me arquiteto? Não pude! Sou poeta menor, perdoai! Não faço versos de guerra. Não faço porque não sei. Mas num torpedo-suicida Darei de bom grado a vida Na luta em que não lutei! Manuel Bandeira
.: reboco :.
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nada permanece tudo vira pó mas pensa que, por milagre do Amor tudo que acaba, um dia existiu. cada vez que um átomo se conecta. cada vez que uma célula, define, junto a outra, o papel perfeito, está fazendo Amor. Que do pó nasça a Vontade de, por um segundo-infinito, Manifestar. Para ser Vivo e Presente, basta não estar m orto . Respira, olha em volta e vê q ue no templo Sagrado da Vida, de Amor é o reboco
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Em primeiro lugar, não se desespere e em caso de agitação não siga as regras que o furacão quererá lhe impor. Refugie-se em casa e feche as trancas quando todos os seus estiverem a salvo. Compartilhe o mate e a conversa com os companheiros, os beijos furtivos e as noites clandestinas com quem lhe assegure ternura. Não deixe que a estupidez se imponha. Defenda-se. Contra a estética, ética. Esteja sempre atento. Não lhes bastará empobrecê-lo, e quererão subjugá-lo com sua própria tristeza. Ria ostensivamente. Tire sarro: a direita é mal comida. Será imprescindível jantar juntos a cada dia até que a tormenta passe. São coisas simples, mas nem por isso menos eficazes. Diga para o lado bom dia, por favor e obrigado. E tomar no cu quando o solicitem de cima. Dê tudo o que tiver, mas nunca sozinho. Eles sabem como emboscá-lo na solidão desprevenida de uma tarde. Lembre que os artis...
.: vem :.
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delícia é saber que nesse exato momento você sabe que estou pensando em você, mais uma vez. feliz de sentir que também está pensando e mim, ciente e contente de que somos e sempre seremos isso: sonhos, pensamentos, desejos... amores pré-sintonizados, recriando o universo de uma forma única. pequenos e imensos prazeres acompanhados de bons vinhos, baforadas e sorrisos cúmplices, abobalhados. me explica por que é tão forte, que eu te mostro que é verdade
.: livre :.
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no meio da escuridão, a mensagem daquele que sempre sabe quem tô: "Toma este vídeo: Pranto Livre. É da Elza." mal cliquei e me vi chovendo. começou garoa de verão e virou tempestade. pancadas de chuva. em cada trovoada uma dor, uma rajada de culpa. em cada gota, as sujeiras dos cantinhos deste coração partido. "Não há notícia ruim que não acompanhe um certo alívio" sussurrou-me aquela voz. com gosto salgado nos lábios, sorrio ao perceber que sou feita de amor, o melhor tempero paras palavras que virão da minha boca. chora, desabafa teu peito, chora, você tem o direito se tratando de amor, qualquer um pode chorar não se envergonhe do pranto, que é privilégio de quem sabe amar quem não teve amor nunca sofreu, e desconhece o que é agonia abra o peito e deixe o pranto livre como eu. ah, desabafe a melancolia
.: pinóquio :.
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finge que não, mas mente, com a convicção cirúrgica necessária para convencer qualquer coração idiota como o meu, sedento por qualquer (in)verdade. Enxergo a cada dia meus erros e incompletudes, mas isso não muda nada: te enterro de novo, de novo, e de novo; quase todos os dias. e te vejo renascer forte, a própria morte da própria inexistência
.: como pôde? :.
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madrugou e minha alma fica alerta, procurando teu sinal. nossos horários sempre foram outros, os nossos. vontade de cantar toda bestinha, celebrando o universo que mora nos teus olhos; sonhando em me banhar no perfume daquele espacinho atrás da tua orelha, que já nasceu deixando saudade. a música anestesia como goles de marasmo, e me joga novamente na encruzilhada do querer: devemos seguir a verdade do coração, ou ceder ao medo fingindo em trocas de migalhas? sinto escorrer no rosto a pergunta que ainda me acorda no meio da noite: como pôde?
.: desterro :.
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em 2001 abri este espaço com a rudimentar consciência de que, por meio da escrita, de alguma forma, eu me encontraria. Tive periodicidade na escrita de um "diário" por poucos anos, e a maior parte das publicações que fiz foram apagadas ou rascunhadas ao longo dos anos, por "vergonha alheia" daquela do passado, pelo receio da super-exposição e principalmente por não comunicar mais o que acho importante ser registrado. mas eu ainda estava aqui. inhaí que os anos passaram e nesse mundo de ilusões - onde a gente projeta tudo que acontece com base nos acontecimentos externos -, o finado Orkut, facebook e as redes sociais todas seduziram-me, ocupando o tempo que antes eu aqui investia. o propósito de estar aqui, 15 anos depois, é conciliar a disciplina dos meus estudos diários, com reflexões e aprendizados. Também é exercitar a percepção da clareza, sem receio de expor minha "verdadeira" opinião momentânea, e com muita sorte, atrair pensamentos que venham a...
.: amor :.
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Amo-te quanto em largo, alto e profundo Minh'alma alcança quando, transportada, Sente, alongando os olhos deste mundo, Os fins do Ser, a Graça entressonhada. Amo-te em cada dia, hora e segundo: A luz do sol, na noite sossegada. E é tão pura a paixão de que me inundo Quanto o pudor dos que não pedem nada. Amo-te com o doer das velhas penas; Com sorrisos, com lágrimas de prece, E a fé da minha infância, ingênua e forte. Amo-te até nas coisas mais pequenas. Por toda a vida. E, assim Deus o quisesse, Ainda mais te amarei depois da morte." Elizabeth Barrett Browning (tradução de Manuel Bandeira)
.: encasulada :.
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dentro do casulo negro, minúsculo, sem mobilidade, visibilidade, sem ar. não moro mais em mim, não aguento não-ser, por mais um dia. deu no face que o vácuo tem mais força que tudo, até do que a própria força. algo disse que por isso, lá fora só podia ser melhor. explodo em fúria, abro o peito e a espinha. abro os braços para, talvez, romper a casca. desfaço um pouco contra a parede, e depois de insistir, desfaço também com ela. sinto que já não era mais só eu. só que do vão lá de fora, não vem o que esperava. demonstro tentativa de estancamanto, mas não tem nada de ação, não passa de ideia. lama negra, viscosa, tóxica é o que me rodeia, continua entrando no buraco que tento tapar casualmente, fechando os olhos. deu no face que o vácuo tem mais força que tudo. que a massa não tá com nada, só vale se tiver molho vermelho. e não é o da ideologia. com o passar do tempo, aprendi a mentir que talvez sempre tenha sido assim.
.: somos um :.
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Não é possível que a vida seja só o cínico shuffle de acontecimentos, sem conexão ou propósito. Ai... E aí que PAPOFT! Fez-se o estrondo. A danada da explosão foi tão grande que até hoje as pedrinhas estão rolando a milhão pelo universo afora, ad infinitum . E nessa poeira cósmica mora um bonito buraco negro chamado Sagittarius A, que arrasta e organiza pelo menos duzentas bilhões de estrelas, o Sol, a Terra, você e eu. E as histórias se aglutinam ou rasgam na puidez da colcha de retalhos, e eu não sei bem se quando enterro o que fez mal, acabo também enterrando a mim. 13 LÍNEAS PARA VIVIR GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ 1. Te quiero no por quien eres, sino por quien soy cuando estoy contigo. 2. Ninguna persona merece tus lágrimas, y quien se las merezca no te hará llorar. 3. Sólo porque alguien no te ame como tú quieres, no significa que no te ame con todo su ser. 4. Un ...
.: carruagem :.
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mais um domingo insone, como de praxe. o cigarro, eu e ocasionalmente você, nessas letras malucas que não precisam fazer sentido, até porque nunca foi esse o objetivo. engraçado que a gente idealiza, idealiza e quando menos percebe... PIMBA! berenice, bateu. estou feliz pela trama dos motivos banais. tantos e tão particulares que desataram mil nós em um segundo: não gostaria de estar em qualquer lugar do planeta senão aqui, sendo euzinha, agora. Tá tudo estranho? Sim. Mas tô amando. Mirando o céu e tendo em minhas mãos o fio que desfaz ou tece o vestido dos dias e noites
.: a flor e a náusea :.
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Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias, espreitam-me. Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar este tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Ração diária de erro,...
.: canto de xangô :.
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Eu vim de bem longe Eu vim, nem sei mais de onde é que eu vim Sou filho de Rei Muito lutei pra ser o que eu sou Eu sou negro de cor Mas tudo é só amor em mim Tudo é só amor para mim Xangô Agodô Hoje é tempo de amor Hoje é tempo de dor, em mim Xangô Agodô Salve, Xangô, meu Rei Senhor Salve, meu orixá Tem sete cores sua cor Sete dias para a gente amar Mas amar é sofrer Mas amar é morrer de dor Xangô meu Senhor, saravá! Xangô meu Senhor! Mas me faça sofrer Mas me faça morrer de amor Xangô meu Senhor, saravá! Xangô Agodô!
.: persistência :.
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bem amigos, já que escrever é inerente e tentar ser uma pessoa melhor é desafio de toda uma vida, cá estamos, resgatando as raízes e voltando ao eixo. são 11 anos de blog, quase 15 anos de internet e aquele vão gigante entre o querer e o fazer continuou aumentando. é por isso que venho - com mais cara do que coragem, confesso - para dar aquela guinadinha positiva rumo ao encontro comiga. ah, desisti.
.: ouça seu S2 :.
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chegou definindo a forma do meu novo ser, me forçando a desempenhar novos papéis, que envolvam o minhas potencialidades. com tudo diferente na vida, e ansiosa com os próximos passos, não posso afirmar que eu sou a mesma pessoa. E nem quero, viu? lembrar o que realmente gosta, seguir os instintos e realmente embarcar no que SENTE ser seu caminho. fluindo, de maneira natural, diante das luminosas vontades
.: passado :.
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engraçado como a gente muda e as coisas ao nosso redor também, automaticamente. depois do inverno chega a primavera. dá um certo arrepio de colher as flores... bate a vontade de parar e observar mais um pouco, tentar sentir o último gostinho daquele que agora que já não é mais. mas a urgência impede meu agora é fui.
.: fosso :.
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talvez sim, talvez não... a gente sabe como é se fosse pensar que viver não é risco já tinha mudado de nome e sumido por aí. mas acontece que não é só risco viver é ponto, vírgula, Verbo. livro escrito em conjunto, materializando platonices de corações aflitos. A esta altura apenas confesso que se soubesse que o lago era fosso, não tinha perfumado a nuca.
:: o (im)perceptível ::
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subindo lentamente a pé a brigadeiro numa tarde cinzenta, bolha no pé esquerdo e roupa de ontem. domingo, ressaca, vinho. aproximando-me do cruzamento, visualizei perifericamente um mendigo que se aproximava de mim. como de costume, pairei meu meu olhar através dele como se não o enxergasse. intimamente torci para que houvesse tempo de atravessar a rua e continuar minha vida sem percebê-lo. não deu tempo e o sinal fechou: não havia mais como voltar atrás, éramos somente ele e eu parados na esquina; eu sentindo seu olhar sobre mim. eu continuava propositalmente imóvel ele levantou seu indicador e levemente tocou meu ombro. "estou aqui, não finja", seus olhos me disseram. retribuí desconcertada com o olhar, meu honesto pedido de desculpas. o farol abriu e ele seguiu adiante. eu continuei aqui, na esquina da auto-recriminação.
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Aprenda a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você... A idade vai chegando e, com o passar do tempo, nossas prioridades na vida vão mudando... A vida profissional, a monografia de final de curso, as contas a pagar. Mas uma coisa parece estar sempre presente. A busca pela felicidade com o amor da sua vida. Desde pequenas ficamos nos perguntando "quando será que vai chegar? E a cada nova paquera, vez ou outra nos pegamos na dúvida "será que é ele?". Como diz o meu pai: "nessa idade tudo é definitivo", pelo menos a gente achava que era. Cada namorado era o novo homem da sua vida. Faziam planos, escolhiam o nome dos filhos, o lugar da lua-de-mel e, de repente... PLAFT! Como num passe de mágica ele desaparecia, fazendo criar mais expectativas a respeito "do próximo". Você percebe que cair na guerra quando se termina um namoro é muito natural, mas que já não dura mais de três meses. ...
:: paixonite ::
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não sei se esse seu olhar que parece entender tudo - ou o seu telefone sem furos-, mas de alguma forma you've got me baby. ...e aonde foi mesmo que eu perdi o bom-senso e o humor ao me apaixonar por você? nítido constrangimento de me deparar com tal situação faz com que eu tenha vontade, mais uma vez, de virar outra pessoa: aquela que te murcha e afasta. porque vai dar merda, você sabe. porque dói demais interpretar esta que recebe seus afagos discretos como se não importassem, e só importam.
:: fim de caso ::
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Int.: C7/9- F7+ D7 Gm7 Eu desconfio que o nosso caso está na hora de acabar D#7+/E A7 Dm7 Há um adeus em cada gesto, em cada olhar G7 C7/9 C7/9- Mas nós não temos é coragem de falar F7+ D7 Gm7 Nós já tivemos a nossa fase de carinho apaixonado D#7+/E A7 Dm7 De fazer versos, de viver sempre abraçados G7 C7/9 D7 Naquela base do só vou se você for Gm7 C7/9 C7/9- F7+ Mas de repente, fomos ficando cada dia mais sozinhos F#º Gm7 Embora juntos cada qual tem seu caminho G7 C7/9 C7/9- E já não temos nem coragem de brigar F7+ D7 Gm7 Tenho pensado, e Deus permita que eu esteja errada D#7+/E A7 Dm7 Mas eu estou, ah eu estou desconfiada G7 C7/9 F7+ (C7/9-) Que o nosso caso está na hora de acabar
.: o salto :.
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Ele era daquele tipo de homem que considera a recusa da cumplicidade como uma condição de erotismo. Ela fora atingida em cheio (nunca soube ao certo o que amava naquele homem, fora a relação que ele propunha nas entrelinhas), mas acabou por sobreviver e acreditava realmente que pudesse tirar algum proveito daquele deserto. Lidar com a imensa e oculta solidão de contar somente consigo mesma ressecava e empobrecia cada vez mais sua superfície de contato com a vida. O cabelo amarfanhou, as unhas escureceram e os dentes - últimos resquícios de dignidade - escapavam-lhe pela boca. O tempo havia passado e toda aquela muralha que havia eficazmente construído com o intuito de fortaleza simplesmente a afastou das possibilidades do além-jardim. O verde florido do mundo externo ousava roçar a base de seus muros, mas nunca mais pôde hidratar suas raízes. Pensava secretamente que quando não se pode contar com quem ama, não há mais ninguém a quem recorrer, mas... Afinal, o que é o amor? ...
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resolveu sumir. isso mesmo. sumir do mundo e da realidade que há pelo menos 20 anos chamava de sua. o mundo lhe vinha somente através dos jornais velhos que os vizinhos descartavam, e do barulho da rua. nunca parou pra pensar no passado e de fato sentia que não tinha absolutamente qualquer vínculo com os dispositivos que usava para reconhecer suas emoções. saiu em um dia chuvoso, depois de muito tempo. buscou um bar, um rosto ou qualquer momento que significasse qualquer coisa. a mesma cenografia, e apesar de os rostos serem outros, continham os mesmos olhares apáticos. apáticos como o seu. correndo pelas ruas, escorregou no meio fio e sentiu claramente o ódio cegar-lhe e entalar em sua garganta. gritou e esmurrou um muro até cansar. enquanto vociferava, mordeu o lábio inferior. estava vivo, era óbvio, ao ver o sangue escorrer pela camisa branca. mas não sentia nada, a dor interior era infinitamente maior do que qualquer rasgo em sua carcaça. - porra! arfando, se deixou toma...
.: sambinha do desaforo :.
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tirando em pratos limpos, neguinha eu preciso desabafar que amor é coisa bonita e não dá pra maltratar você podia fazer de tudo, neguinha menos me desrespeitar (e tudo mais que tinha de bom) sei que a gente já se estranhou muito em tanto assunto que não dá pra contar mas por conta de muita aguardente você veio quente querendo brigar tentei participar o meu lado você se encheu de raiva e não quis ouvir deu vexame na frente dos outros matou de desgosto até que sumi
:: o baixo astral ::
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Enquanto dura o baixo astral, perco tudo. As coisas caem dos meus bolsos e da minha memória: perco chaves, canetas, dinheiro, documentos, nomes, caras, palavras. Eu não sei se será mau-olhado. Pura casualidade, mas às vezes a depressão demora em ir embora e eu ando de perda em perda, perco o que encontro, não encontro o que eu busco, e sinto medo que numa dessas distrações, acabe deixando a vida cair. eduardo galeano - o livro dos abraços
:: sinto muito ::
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cada agora é uma nova memória, e dentre todas as possíveis, insiste em bater na mesma teclinha: mesmo papelzinho amassado com o rabisco da lembrança de quem sempre quis ser, completamente diferente do que realmente é. forçar a crer é diferente de conectar, e eu sei, meu amor, o quão difícil é fingir que ser é algo possível.
.: lucidez :.
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A lucidez é um dom e um castigo. Tudo está na palavra. Lúcido vem de Lúcifer, o arcanjo rebelde, o demônio. Também chama-se Lúcifer a estrela d'alva (conhecida também por Vênus), a primeira estrela, a mais brilhante. A última a se apagar. Lúcido vem de Lúcifer, e Lúcifer vem de lux e ferous , que quer dizer "o que tem luz, o gera luz". O que traz a luz que permite a visão interior. Bem e mal, tudo junto. O prazer e a dor. A lucidez é dor, e o único prazer que se pode conhecer - o único que parecerá remotamente com a alegria -, é o prazer da consciência da própria lucidez.